CIA AVALON

terça-feira, 9 de março de 2010

No meio fio estava sentada, os carros passavam apressados e perplexa com a velocidade feroz da metrópole, me pus a pensar; no vai vem das horas, no tempo perdido com coisas banais e sem sentido. Sempre que os carros buzinavam, eu me refazia do susto rindo, como numa catárse maluca e demente, o sol queimava o asfalto e fatalmente torrava meus pés. Estranho só agora percebi que tenho pés, que posso mexe-los e que incrivelmente posso usá-los para sair desse meio fio. Mudo o pensamento, não quero me mexer, os carros ainda gritam com suas buzinas estridentes, pessoas me olham como comiseração, talvez pensem que sou uma andarilha ou coisa parecida, não me importo, o sol ainda queima o asfalto e fatalmente me queima. O vento rugiu no meu ouvido direito, como uma lufada quente de um Deus da tecnologia, me chamando a atenção para o mundo hich-tech que observo; confusa. O sol ainda brilha e dessa vez foi engolido por uma nuvem singela e extremamente amigável. Meu pé ainda se mexe, sozinho, que coisa. Olho para os lados e vejo uma grande pista no sentido contrário, pessoas transitam no vai e vem das compras. Não consigo entender o que tão compram, e o por quê compram. No meio fio os carros ainda voam, e sentada com os pés queimados no chão, eu choro. Um triste pranto, nem sei ao certo a razão, entretanto as lágrimas caem uma a uma no meio fio, que agora está molhado e quente. Olho meus pés que ainda ardem, mas se preocuparam com os olhos que choram, minhas mãos doces e ternas, se apressaram a ajudar as pobres meninas dos meus olhos. E tem o meio fio que todo solícito me disse entre o afasto e tinta amarela que lhe orna, fique tranquila e vá para a faixa de pedestres. É mais seguro. Obedeço como uma criança que não tem muita alternativa, sento-me no meio da faixa, os carros gritam mais: - Quer morrer sua louca?
Não entendo o motivo de tanta raiva, mas sorrio perplexa, ante a possibilidade da morte por pura inocência e infantilidade. Um pássaro voa ao meu redor e me afasta o pensamento juiz, olho sorrindo para a ave, que me traz no bico um pequeno papelzinho. Abro com cuidado pois parece ser um recado muito importante, e realmente era. Minha mão dizia no texto: Menina saí da rua, toma cuidado, o carro pode te atropelar.
Acordei no hospital, minhas pernas jaziam inertes, meus pés roxeados e tristes, minhas mãos estavam enfaixadas e minha boca salivava. Fui atropelada no momento da dúvida, no momento que deixei de acreditar no sonho de poder voar e conseguir tudo, imesamente preocupada com o recadinho maternal, desacreditei de mim e de Deus ( se é que ele tem algo a ver com isso ). Ri sozinha no quarto do hospital, o passarinho veio me visitar, estava com a consciência pesada, disse que trazia outro bilhetinho, mas que dessa vez, eu iria gostar imensamente. Peguei o papel com as mãos trêmulas em letras garrafais estava escrito: Eu acredito em você e não mude nunca a forma como enxerga a vida! Estou com você sempre e pode contar comigo, Com amor - Deus!

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