CIA AVALON

sábado, 22 de janeiro de 2011


Do teu olhar lembro me somente do lento movimento que fazia, quando estava absorto, pensativo e ausente...Irritava-me falar contigo e não ter uma resposta, uma simples resposta.
Encolhia-me sentada em volta de tuas pernas, esperando por um afago, um carinho, uma atenção...Como um bichinho carente, ficava ali, horas e horas, enquanto lia  próxima a lareira.
Quando se dava conta da hora avançada, me pegava no colo e me deitava na cama, cobria meu corpo e me beijava a testa, dizendo eu te amo baixinho. Era como um sonho, e adormecia feliz, outro dia, era pura atenção, ouvia-me contando as mais loucas aventuras, as  insignificantes história do escritório. Creio que como pagamento pela noite anterior, não me deixava um só minuto, me dando toda a atenção de que eu necessitava.
Amava-me era certo, mas não sabia como lidar com nossa diferença de idade, afinal tinha  compromissos que não podiam me incluir, nem saber da minha existência. Sua vida dupla o fazia ser incompleto como homem, mas a necessidade do trabalho o fazia prosseguir. E sabia desde o inicio o quão difícil seria amar aquele homem, a escolha de vida dele o faziam refém de uma situação que só terminaria se ele mesmo decidisse por isso. Mesmo assim me conformava ter uma parte dele, ter o amor que tanto almejei e desde o inicio sabia que seria assim: ele vestiria sua outra fantasia e sairia para cumprir seu papel, uma posição de destaque em seu meio social, um conselheiro – sedutor e autoritário.
Em minha cama era somente um homem, adorável e indefeso,como todos homens sabem ser quando querem amor e atenção. Durante os domingos a dor era ainda maior em meu coração, levantar cedo e passar aquela roupa, me dava náuseas, me sentia inferior perante tudo e principalmente frente a Deus. Sentia-me culpada, mas seu beijo longo e molhado me despertavam das conjecturas. Ajoelhada e de olhos baixos, rezava baixinho, enquanto o homem que horas atrás cobria me o corpo de beijos e afagos, erguia silencioso um cálice sagrado, proferindo palavras sacras e dirigindo toda uma paróquia. Sim, eu amava e era  amada, entretanto ele não era um simples homem – era um padre. Amém.

Um comentário:

Jens disse...

Lembrei que uma expressão que usávamos muito na minha infância, em tom pejorativo: "mulher do padre".
Na tua visão delicada, o que era desagradável, com fortes tintas de obscenidade, tornou-se angelical. Surpreendente.

Beijo, Pri.