CIA AVALON

segunda-feira, 25 de maio de 2020

A PAIXÃO COM DOSES DE ENDORFINA MENTAL


A primeira vez que vi teu rosto em uma foto, havia algo que me encantava, não sei dizer se foi o sorriso, se foi o jeito, se foi a paisagem, não sei dizer ao certo, tão pouco sei mensurar o que de fato senti. Uma sensação estranha, diferente de tudo o que podia ter sentido, não conhecia aqueles dois seres, que ali estavam, dispostos em uma foto digital, como um casal cartesiano, um homem e uma mulher.

Fiquei horas vendo as fotos, as viagens, os sorrisos de uma suposta cumplicidade, meu olhar atento me dizia que não era tão real aquilo, talvez minha amargura por não acreditar em casais tão felizes, tão cheios de pão com margarina e “eu te amo” no final da tarde, com mãos dadas de casal "novelinha" água com adoçante.

Definitivamente eu não acreditava naquele casal, mas algo me inquietava, provavelmente minha mania insistente de dizer para mim mesma, que não sonhava com um amor daqueles ou talvez por antever o futuro. Bingo.

Eu me apaixonaria por aqueles seres, deste gatilho de me apaixonar e eu sair a caça deles foi um passo, sou dessas, confesso.

Quando quero conhecer alguém, tramo mil ideias mirabolantes, e procuro o curso, procuro os seres e vou, confiante de que serão pessoas que me dirão algo, que me mudarão o curso da minha vida. Normalmente não acontece nada de muito esotérico, olho para eles e penso: Bah, seres humanos, com seus egos inflados defendendo o quinhão deles, os seus eventos, suas falas, suas regras e blá-blá-blá, no final das contas chego em uma conclusão que deveria ter gasto o dinheiro com comida, aí, já é tarde.

Dinheiro não costuma levar desaforo para casa, tão pouco eu sustento o ego de seres da mídia, normalmente esfrego na cara com meu olhar ferino: estou pagando para você me servir e ponto.

No geral, costumo causar mais inimigos do que amigos nessas esferas de relacionamentos, entretanto o posto de Deuses que certas pessoas se colocam fazem os meros humanos tidos normais se olharem e pensarem:“ Quem são vocês, Deuses?”

Eu perdi a conta de quantas vezes digo aos seres: “ Eu te amo, e juro é real.” Te amo de um jeito meu, um jeito peculiar, não quero me casar com você e nem te amarrar em minha vida, fica tranquilo(a), te amo, te considero incrível mas oficialmente dizendo só quero te provar e saber que sabor tem tua pele, é possível ?

Literalmente recebo vários nãos, principalmente de homens que não gostam de serem cantados, esse em questão, ficou todo ofendido por que eu desrespeitei a família dele, em um comportamento machista que poderia ter sido sanado entre as paredes de um desejo.

Eu consigo vislumbrar a face corada e o desejo latente no corpo, por que depois desse episódio ficou aquela fumaça que me dizia: eu sei que você é um demônio que se eu escorregar vai me conduzir para o abismo e se eu titubear não consigo voltar.

Você simboliza: Perigo. E eu preferi não arriscar.

Eu olhava para ele todos os dias e lamentava um único detalhe: a nossa cerveja, regada a risada sem preconceitos, falando de mulher, de homem, de sexo, de amor, de putaria, de coisas nossas, coisas de dois seres sem regras, algo que eu sempre soube que ele era, que por ditames impostos por um jogo da sociedade não tivemos a oportunidade de conversarmos sem amarras, sem pudores, foi triste constatar isso.

E como negar isto a alguém como eu ?
Era uma cerveja, uma risada, um farfalhar de dedos e nada sairia dali, mas ele preferiu acreditar que eu desmoronaria o castelo de uma vida pacata e tranquila, uma mentira que por certo muitos contas a si mesmo para continuarem o mesmo discurso de sempre: sou casado e você não me interessa.

Já me acostumei com esse tipo de situação, o meu desejo fala em níveis altos que chega a me ensurdecer, vou até o nível mais alto de minha loucura e pulo. E nesse abismo de vontade, de desejo e de situações esdrúxulas existe a minha fantasia.

E nessa minha fase de egoísmo, na minha busca por algo que faça valer a pena eu me perco entre o que quero, o que posso e o que não devo.Me enrosco toda no que sinto, me perco no que faço e invariavelmente me machuco.

É natural? Não, não é. É o meu jeito, mesmo depois de tantos anos, ainda me apaixono, ainda choro por amores não vividos, ainda me apaixono por seres estranhos, ainda vivo em constante alimentação de brisas de amor, um dose diária de "endorfina" mental para sanar a insanidade de minha vida amorosa.Que sempre classifico como o Espelho. Esse geralmente nunca me engana e quando olho para o Espelho negro da dúvida me deparo com a espada do ódio e ela inexoravelmente age.

De fato – eu amei – durou pouco tempo mas ainda doí, machuca, incomoda, me deixa triste, as lágrimas rolam mas me sinto curando a mim mesma de devaneios, tolos, mas são os meus devaneios, os meus pensamentos, o que vivi e vivo. Sou eu.

Amor é esse o remédio que tomo ao acordar.

Ódio é esse o antídoto que tomo ao dormir.

Vida é esse sopro que aspiro ao abrir os olhos.

Morte é esse mal que me habito o leito.

AL CO VA

Autora: Priscila de Fátima Jerônimo

25/05/2020

04:30 hs

 

 

 


Nenhum comentário: