CIA AVALON

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

CALE-SE DIANTE DO CAOS.

 



São Paulo, 08 de Fevereiro de 2021.


O SILÊNCIO ENTRE AS PAREDES DE UM TEMPLO


Autora Priscila de Fatima Jeronimo

Os lamentos que Preto Velho evoca, com sua dança festeira, seu cachimbo cheio de contos, de alegria e sabedoria, nos toca como o som que as mãos tão calejadas por um tempo de lágrimas vai se desaguando em uma cachoeira de amor.

O tempo da despedida, entre escombros de muitos tijolos, entre marretadas, os sonhos vão se descortinando entre risadas, cânticos, preces, velas, o fechamento de um Templo, de um Terreiro, de uma Casa Kardecista, tem me mostrado o quão desigual é esse mundo.

Em uma praça próximo ao bairro onde moro, sempre encontro estátuas que vão sendo entregues ao tempo, vejo Santos, imagens, terços, restos de uma fé que ao ser abordada pelo aspecto financeiro foi sendo o sabor amargo do despejo.

Em cada fim de história há um desfecho que em muitas visões são o fruto da contemporaniedade, o mercantilismo que onera os bolsos do adepto da Umbanda e do Candomblé, reduz a senzala a pobreza, ao povo de Santo cabe sempre o quarto de despejo que Maria Carolina de Jesus já dizia em seu diário.

A vela que hoje é desprezada, no passado foi o motivo e a causa de muitas curas, o cachimbo que hoje é razão de repreensão já foi benção nas mãos de uma Negra Nagô, o marafo tantas vezes chamado de alcolismo já embriagou e levou demandas de corpos que acreditaram e por este motivo sabem o valor deste elemento.

O valor monetário é um dos fatores que sempre é elencado como motivo de ironia entre os adeptos da Umbanda e do Candomblé, em nossa religião, sempre temos esse ranço - a obrigação de servir e ainda se mostrar grato por esta "oportunidade", a senzala se mostra neste termos que essa Sociedade branca vai moldando os motivos de tanta ironia.

Quando Cristo esteve  neste Planeta, em suas falas que se tornaram motivo de fomentação de um novo olhar, o humano encarava aquele ser, como um desordeiro que vivia ébrio e andava com alguns pescadores pobres e cheio de ignorância, entre a desigualdade de valores que os Comerciantes ostentavam, os miseravéis lambiam a fome de uma Ave que não fosse romana.

As portas se fecham em um claro movimento de repressão em que tudo o que for gerado como um movimento de preservação de uma cultura gerada por anos de resistência, por um legado em que os tambores sejam motivo de festa e de alegria, entre o rasgar do tambor, o silenciar da música, o calar das Mães de Santo se faz de lamento.

Em um movimento de buscar novas formas de manter acessa a fé, a Umbanda e o Candomblé começaram a encontrar maneiras mais tecnologicas para prosseguir diante dos novos ditames desse ano de 2020.2021.

Em cada Axé que o capital foi fechando, finalizando, modificando, em um tempo espaço de afeto e memória desestruturando todo a comunidade do entorno, onde havia um espaço de busca espiritual, de formação política, de formação feminista, restou um vácuo, um vazio.

A Deusa do silêncio se faz de um grito emudecido, uma mordaça que a sociedade foi tecendo em torno do Sagrado, uma venda colocada de propósito enaltecendo o patriarcal como estrutura de um cifrão qualquer.

Venderam nossos tambores e não nos pagaram, nos deram o calote no cale-se quem puder.

Brasil. 







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