CIA AVALON

sábado, 16 de julho de 2011




Lembrei de você nas ruas escuras e iluminadas pela noite de Copacabana...
Lembrei de você e vi sorrindo ao meu lado a figura mítica de Nelson...
Lembrei me de você sentada a beira a mar, junto ao meu violão
Havia uma garrafa de vinho, daqueles baratos...Não havia copo, bebia da garrafa mesmo, estava com meus pés cansados, havia andado o dia todo, tentando te esquecer...Esquecer o que de Nelson Rodrigues - acordou em mim, esquecer da prostituta libertina que mora em meu corpo, que pede gozo, sexo e luxuria...Olhei para as areias de Copacabana e vi um vestido branco todo bordado e quase pude te ver, com as mãos cheias de sangue lavando a alma do mar com teu ato profano...Deite-me na beira da praia e desejei que tu estivesses ali, deitado sobre meu corpo, sentindo a energia que emana de mim quando sinto tu perto de mim...Corri solitária, meu violão - somente ele me acompanhava, mas havia algo que faltava, que gritava e ecoava na boca de Baal, ele gritava em meus ouvidos e ao fundo tambores negros se apoderaram de mim, me vi nua no meio de vários homens, a sensação era muito ruim, seria devorada viva, atacada, cuspida, estuprada, mas não sentia tanto medo assim, o mar estava me guardando.
Andei solitária pelas ruas de Copacabana, passei em frente a uma escola de arte e nada ali me dizia de você, de teu olhar, de tua estética...Onde estará aquele que amo e ao mesmo tempo odeio, onde estará aquele que temo e ao mesmo desejo, onde estará aquele corpo que não me pertence mas já faz parte de mim...Onde está aquela boca, que falava aos meus ouvidos...Por que está boca não fala em minha boca?Por que esse desejo insano, profano e profundo - por que essa vontade louca de te agarrar o corpo e te comer a alma...Por que essa luxuria tremenda de te tomar o gozo mesmo que não seja o meu...Por que esse desejo sadomasoquista, de te ver sofrendo?Por que essa loucura insana de ter possuir ? De te subjugar ?Por que acordou a fera maligna que estava adormecida no calabouço do meu corpo...Estava tão feliz, plena, não fazia sexo há três meses e estava no cio, urrando, uivando...E encontrei o homem - ele é da rua, cigano, artesão, argentino, mora na favela, vive do hoje, anda descalço, estava sujo, mas era meu...Estava nas ruas de Niteroi e me acolheu, sentou comigo no chão, fumou comigo, bebeu comigo, os pés dele mau tocavam o chão...Fiquei preocupada e lhe ofereci uma massagem, ele aceitou, levou me para tua casa - na favela, no meio do nada e no centro de tudo, acolheu meu corpo, aceitou minha alma, agradou me com a água limpa de um banho, deu me de comer, tocou meu violão, perfumou se para mim, ficou limpo, cheiroso, toquei lhe os pés, colocando no lugar a dor de uma luxação...Estava sendo seduzida, aquele argentino...


Autoria: Priscila de Fátima Jerônimo 

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